quarta-feira, 30 de abril de 2014

Indian Summer

Eles estavam em três, dois homens - um mais velho que o outro, talvez fosse o pai, pois eram parecidos - e uma mulher, a única que não tinha o rosto pintado.
Estavam sentados discretamente em um banco da Rua XV. Ao lado deles havia um equipamento de som ligado precariamente em um fio comprido que saía de alguma das lojas. Estava tocando alguma música instrumental em um volume baixo.
O homem mais novo estava dedilhando um instrumento de cordas muito peculiar de uma forma que não parecia que ele estava tentando tocar alguma música, apenas tentava consertar alguma coisa no instrumento.

E sem comunicação alguma entre os três, começou uma agitação - começavam a preparação do ambiente para a próxima apresentação.
O mais novo vestiu suas roupas cheias de penas longas e coloridas sobre a calça jeans e a camisa de botões. O mais velho apenas vestiu seu cocar maior - como os antigos chefes costumavam fazer.
Havia silêncio entre eles - outrora tudo era ritual. Talvez o significado dos gestos repetidos por incontáveis gerações não permitisse que fosse diferente.

Uma melodia triste e suave começou tímida como o vento que chega mansinho em um fim de tarde fazendo a cortina balançar um pouco para logo após repousar na janela de novo. Então silêncio.
O aparelho de som ligado agora em um volume alto faz os auto-falantes chiarem com as primeiras notas de Imagine do John Lennon em versão instrumental. O som da flauta volta então em momentos perdidos da música como uma criança pedindo atenção.

A mulher fazia a parte dela, tentando abordar as pessoas que passavam apressadas e que mal percebiam a sua presença. "Compra um CD moça?". Antes do final da música, percebendo a falta de interesse dos possíveis compradores, voltou a sentar no banco e a tomar sua coca-cola.

Um comentário:

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